Padre Edson diz ser vítima de máfia e vai depor na CPI dos Guinchos

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Padre Edson
Padre Edson

Dois padres, um jovem e um idoso, em busca de assistência médica na região de Santa Lúcia, em Vitória, são as novas vítimas dos abusos cometidos pelo esquema que envolve Guarda Municipal, Batalhão de Trânsito, Detran e as empresas que operam o milionário negócio de guincho e estacionamento de carros na Grande Vitória.

Um deles, o padre Edson Alexandre dos Santos, diretor do Seminário Diocesano de São Mateus, sediado em Carapina, na Serra, será o primeiro autor de denúncias, que chegam pelo canal criado pela CPI dos Guinchos, a ser ouvido pela Comissão. O depoimento está marcado para a próxima segunda-feira (25), às 11 horas. Convidado, ele já confirmou que vai à CPI, porque se considera uma “vítima da máfia dos guinchos”.

Na mesma sessão estão marcados os depoimentos do prefeito de Vitória, Luciano Rezende, e do secretário municipal de Segurança Urbana, Fronzio Calheira Motta, a quem está subordinada a Guarda Municipal da capital, sobre a qual começam a recair graves suspeitas de agentes envolvidos com uma suposta máfia na exploração de serviços de guincho e pátios de estacionamento.

Caso de polícia A ocorrência envolvendo os dois padres virou caso de polícia. Padre Edson Alexandre registrou um Boletim de Ocorrência na 4ª Delegacia Regional de Cariacica por “constrangimento ilegal” contra um servidor do Detran no serviço Faça Fácil de Cariacica, no último dia 13 de maio.

O suplício do padre Edson começou pela manhã e somente terminou à noite, mediante a intervenção da Casa Civil do Governo do Estado. O padre conta que na manhã do dia 13 estacionou o carro da Diocese, um Chevrolet Cobalt 1.4, placas de São Mateus, na rua Fortunato Ramos, “num local onde não havia nenhuma sinalização de proibição”.

A zona é de estacionamento rotativo, em Santa Lúcia, e na manhã desta quarta-feira (20), o padre voltou ao local em companhia de assessores da CPI do Guincho, que constataram falhas na sinalização, tanto vertical quanto horizontal. O padre não mora em Vitória e a única placa indicando a zona de rotativo está distante da área onde o padre estacionou.

Não há funcionários da empresa de exploração do rotativo por perto e o parquímetro mais próximo está “escondido” atrás de uma árvore. “Quando cheguei para estacionar, um flanelinha me chamou para estacionar em outro local, mas não concordo com essa história de flanelinha e não há sinalização proibindo estacionar onde coloquei o carro.

Quando cheguei ao local, voltando de uma consulta médica com o padre Edvaldo Luiz Klipel, quase quatro horas depois, não encontrei o carro, mas outras quatro pessoas também procurando por seus veículos e em apuros. Eu pensei que tinha sido roubado, mas o flanelinha disse que o meu e outros cinco carros haviam sido rebocados. Aí começou minha via crucis”, disse o padre.

De acordo com o sacerdote, com dificuldade ele encontrou, jogado no chão, um papel dizendo que o carro tinha sido levado para o Central Park, na Rodovia do Contorno “Um esquema vergonhoso, com a conivência do Detran. Liguei para o seminário e pedi que fossem nos buscar, porque o padre Edvaldo tinha colocado um colírio na vista e tinha dificuldade de enxergar. Fomos, então, ao Central Park”.

No pátio de estacionamento, o padre relata o que lhe aconteceu: “O tratamento é desrespeitoso e truculento, são morosos para liberar os carros e somente se pode pagar em dinheiro ou cartão do Banestes. Emitem um documento incerto. Paguei uma taxa arbitrária de R$ 286,17, sem especificações detalhadas do que estava pagando. Tive que ir ao Detran de Cariacica, porque tenho uma procuração da Diocese e eles queriam um recibo de compra e venda do carro. Como recibo de compra e venda, se o carro é da Diocese?”

Para piorar, o padre relata que tanto no pátio quanto no Detran os funcionários não quiseram aceitar a procuração, que tem firma reconhecida em cartório. “Somente consegui a liberação do carro às 21h50, quando precisei ligar para o Padre Honório, que é deputado, e ele entrou em contato com a Casa Civil do Executivo. Como é que fica o cidadão diante dessa arbitrariedade? Nossos direitos estão sendo desrespeitados flagrantemente, com a conivência do poder público”, disse o padre Edson.

O religioso relatou que viu uma senhora tendo que dar, “para pagar a máfia do guincho”, os únicos R$ 500 que tinha na bolsa e que estavam reservados para pagar a consulta médica de uma filha. “Para piorar, quando consegui resolver, um funcionário truculento anunciou: Edson Alexandre, pode retirar sua moto Biz. Moto biz? Aí eu me estressei. Eles são totalmente despreparados e truculentos. Quando fui ver, o carro ainda estava com quatro amassados e tive que pagar mais R$ 400,00 numa oficina para reparar”.

Na próxima segunda-feira, o padre Edson vai entregar à CPI cópias do Boletim de Ocorrência que registrou contra o servidor do Detran que não aceitou sua procuração para retirar o carro e, ainda, cópia do documento emitido para pagar pela liberação do veículo. No documento, constam: R$ 120,92 pelo rebocamento; R$ 145,10 pela quilometragem percorrida até o pátio, sem especificar quantos quilômetros; e R$ 20,15 pela estadia, também sem especificar o tempo.

“Estou indignado, não como padre, mas como cidadão. Isso é uma quadrilha que deve ter um padrinho muito forte. É um roubo escancarado”, acentuou o padre Edson Alexandre dos Santos. Contradições Nas duas últimas sessões, a CPI do Guincho ouviu dois oficiais da Polícia Militar: o tenente-coronel Marcelo Bermudes Rangel, comandante do Batalhão de Trânsito da Polícia Militar, e o tenente-coronel Reinaldo Brezinski, chefe do Centro Integrado Operacional de Defesa Social (Ciodes).

No primeiro depoimento, Bermudes disse que o Batalhão somente executa blitze determinadas pelo Ciodes. No segundo depoimento, Brezinski disse que o Ciodes não tem nada com isso e que as blitze são determinadas pelo Batalhão de Trânsito e que somente aciona o serviço de guincho quando é demandado pelos policiais do Batalhão de Trânsito ou pela Guarda Municipal de Vitória. Diante disso, a CPI do Guincho resolveu convidar, para depor, o prefeito Luciano Rezende e o secretário de Segurança Urbana de Vitória.

Os deputados têm em mãos a denúncia do Ministério Público Estadual, feita em 2008, dando conta de que agentes públicos receberiam dinheiro dos guinchos a cada acionamento, e também as empresas que exploram o serviço financiariam atividades da Associação dos Policiais Militares de Trânsito (Assetran).

Por conta disso, tramita na Justiça uma ação por atos de improbidade contra várias autoridades ligadas ao alto oficialato da Polícia Militar. Quando compareceu à CPI, o diretor-geral do Detran, Fabiano Contarato, entregou aos deputados uma série de documentos, dentre eles a relação das empresas que operam o sistema. No ano passado, elas receberam mais de R$ 11 milhões. Mais da metade desse dinheiro é destinada a três dessas empresas.

Para o deputado estadual Enivaldo dos Anjos (PSD), presidente da CPI, “a cada dia fortalece-se a tese de que há uma máfia que explora esse serviço há mais de 10 anos no Espírito Santo, submetendo a população a constrangimentos e arbitrariedades, que só interessam a algumas pessoas”. O parlamentar questiona a ausência de licitação para explorar os serviços de guincho e estacionamento e diz que “essa máfia foi ainda mais fortalecida pela implantação do estacionamento rotativo em Vitória”.

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