‘O que vamos ter daqui pra frente é uma briga jurídica’, diz professor de impactos ambientais

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14O professor doutor de Gestão de Impactos Ambientais da Universidade de São Paulo (USP), Álvaro Fernando Almeida (foto), ressaltou em reunião na Assembleia Legislativa, nesta quarta-feira (02/12/2015), a urgência de análises precisas, feitas por especialistas e cientistas de todo País, para diagnosticar os reais impactos da tragédia do rompimento da barragem da Samarco/Vale em Mariana (MG).

Só assim, diz ele, será possível contestar os argumentos da empresa que tentam minimizar sua responsabilidade. “O que vamos ter daqui pra frente vai ser uma briga jurídica”, apontou.

Ele lembra que essas análises serão essenciais para rebater judicialmente a estratégia da empresa de afirmar que o rio Doce já estava destruído, o que ele garante ser mentira. “O rio estava doente, mas não morto”.

O professor também alertou, nesse sentido, sobre a urgência de se analisar com precisão a água contaminada pela lama de rejeito de minério nos municípios atingidos, que tanto a empresa como os governos federal, estadual e municipais insistem em anunciar como potável.

No entanto, ponderou, os laboratórios e órgãos locais não estão equipados para analisar água contaminada por rejeitos de minério, “que podem conter até mesmo partículas radioativas”.

Almeida lembrou que mais de 700 quilômetros do rio Doce foram destruídos pela enxurrada de lama, calculada em 62 milhões de metros cúbicos, o que acabou com cerca de 1.400 hectares de vegetação e matou mais de 11 toneladas de peixes mortos – número que pode triplicar se forem contabilizados os peixes pequenos, como enfatizou.

“Não temos registros na história brasileira de algo tão drástico. A qualidade do que desceu das barragens é incompatível com a vida”, sentenciou.

O professor também criticou a empresa pela falta de responsabilidade com suas barragens. Para isso, citou a contratação feita pela Samarco/Vale em 2009 da RTI (RescueTraining International), empresa paulista de consultoria, para preparar um plano de emergência em Mariana. Mas desistiu, porque “achou muito caro investir em segurança”.

Almeida afirma que as mineradoras não podem ser tão predatórias como têm sido no País, nem ignorar o local onde estão instaladas. “Não se trata só de oferecer emprego, mas dignidade também”, destacou.

O professor afirma que as tecnologias modernas, que demandam investimentos, oferecem uma redução de 90% da água usada no processo de mineração, o que não resultaria em lama, mas em material sólido.

“A mineração praticada aqui é extrativista e de baixo investimento. Lá fora as empresas são cobradas e aqui o governo brasileiro não fiscaliza”, reafirmou, acrescentando que 60% das 735 barragens localizadas em Minas Gerais não foram inspecionadas em 2014.

O professor foi convidado pelas comissões de representação do rio Doce e de Proteção ao Meio Ambiente e aos Animais da Assembleia Legislativa.

(Com informações da Assembleia Legislativa)

 

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