Às ruínas dos antigos casarões que abrigava a maior zona de prostituição do Norte do Espírito Santo hoje é apenas a sombra da era de luxo, poder e sedução das cafetinas que reinaram em Colatina dos anos 50 até meados de 1970.
Algumas fizeram história, outras nem tanto. Aos escombros, parte do casario dos bordéis ainda resiste à expansão imobiliária, mas desabou diante da veloz mudança de comportamentos.
No auge da zona boêmia de Colatina conhecida como Brasília por volta de 1962 para frente mais de 500 moças viviam da prostituição sob o domínio das cafetinas nas dezenas de boates que proliferavam na região do Bairro de São Silvano, relembra Eunice Ferreira, 78 anos.
Com pouco mais de 20 anos, Eunice veio do interior para trabalhar na noite na casa de Edith Moreira Chagas, tida como a Dona Beija de Colatina. “As luzes coloridas, a música e alegria nos salões decorados com espelhos eram deslumbrantes” diz Eunice sobre o encanto da boate Paraíso Perdido. Nos Anos Dourados, o Paraíso era o bordel preferido dos barões do café e coronéis da política iam se divertir nos finais de semana.
Edith com charme e poder de sedução das meninas revela Eunice conquistou fama e riqueza dos figurões que a procuravam na eleição ou de empresários atrás dos segredos comerciais e íntimos de concorrentes.
“Éramos registradas na delegacia. A polícia toda semana colhia nomes e documentos das garotas. Por regra não podíamos deixar a zona e ira para a rua. Edith mandava entre os poderosos da época”, disse Eunice. A Dona Beija colatinense morreu rica perto dos 90 anos em Vitória, conta seu filho o ex-caminhoneiro Sérgio Gomes da Cruz, 54 anos. Sérgio descreve a mãe com uma mulher magra, cabelos brancos e curtos, lábios finos, pequena e belos olhos castanhos.
“Não fui atrás de herança. O tempo que convivi com o ela foi o suficiente”, disse. Sérgio afirma que durante a eleição, candidatos faziam fila de beija-mão na Casa de Edith para tê-la como cabo-eleitoral na cata de votos. Outras duas ‘empresárias do sexo’ Maria Vicente Junior, 86 anos, a Maria Juniôr e Maria de Melo, 78 a Maria de Mel – ambas falecidas -, também confirmavam a intimidade com poder, fama e o dinheiro nas altas rodas. As boates colatinenses como Sevilha, Hollywood, Pensão Azul, Três Corações, Paraíso Perdido, Perdido, Brasília e Monte Líbano ganharam fama nacional. “Vinha gente de avião de Santa Catarina, Brasília, Belo Horizonte e Bahia procurar a gente com freqüência”, contou Eunice três anos antes de sua morte. A decadência começou a partir de 70 por pressão judicial contra a permanência de menores e crianças e rixa com moradores dos arredores.
A Zona acabou. Virou acesso ao único bairro planejado de Colatina e está de volta o conflito entre o restante da prostituição praticada em barracos de madeira e tijolo e os moradores dos novos loteamentos da região.
Fonte: Nilo Tardin