A audiência pública sobre a barragem que está sendo construída no rio Itaúnas, é totalmente segura e nem mesmo uma tromba d’água seria capaz provocar o rompimento da mesma. Essa foi a mensagem passada na tarde desta sexta-feira, 7, para mais de 400 pessoas, entre produtores rurais, moradores da sede, técnicos e curiosos.
A mesa condutora do evento contou com a presença do deputado estadual Enivaldo dos Anjos, que buscou a audiência junto à Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), para os esclarecimentos, além do prefeito Alencar Marim, vereadores, o líder do Comitê de Defesa da Bacia Hidrográfica do Itaúnas, José Carlos Alvarenga e os técnicos da Seag.
O prefeito Alencar Marim, que abriu e fechou o evento, falou da importância da barragem para o abastecimento de água em Barra de São Francisco e disse que audiência buscava dissipar dúvidas colocadas pela população.
Ao final da audiência, ele disse desejar que muitas outras aconteçam na cidade, para debater temas polêmicos. “Precisamos, inclusive, de fazer uma audiência sobre pedofilia e violência sexual, um tema que tem preocupado muito a nossa sociedade”, desejou.
Durante a audiência ficou claro o desconhecimento das pessoas que tentaram aterrorizar a população francisquense nos últimos dias, comparando os riscos de rompimento da barragem com o da barragem de rejeitos de Brumadinho. “São projetos e funções totalmente diferentes”, explicou o gerente de Infraestrutura e Obras Rurais da Seag, Patrick Ribeiro.
Ribeiro começou mostrando como funcionam as barragens de rejeitos, esclarecendo que a que rompeu em Brumadinho e a maioria das que são feitas em Minas Gerais, são projetos de baixo custo e que, por isso, correm mais risco de rompimento. “As barragens de rejeitos não têm escoadouro. O material vai sendo despejado nela e fica estático. Quando enche, constroem outra, tipo um puxadinho e quando se rompe, o peso dos rejeitos destrói tudo pela frente”, explicou o técnico.
No caso da barragem de água, como a do Itaúnas, existem equipamentos próprios para promover a vazão do excesso de água, em caso de grandes volumes de chuva, como o monge e o vertedouro. De acordo com Patrick, para que a água passe por cima da “crista” da barragem, que terá seis metros de altura, seria necessária uma chuva como nunca aconteceu nos últimos 100 anos.
“Mesmo que chovesse mais de 200 milímetros em curto espaço de tempo, a barragem teria como escoar o excedente de forma segura. E mesmo se houvesse um rompimento, todo o volume de água da represa não causaria enchente em Barra de São Francisco, pois ela se espalharia por mais de 600 hectares de várzeas, ao longo dos 16,5 quilômetros entre a barragem e a Sede. Além disso, o desnível – diferença de altura – entre a barragem e a Sede é de apenas 25 metros e a água chegaria aqui com no máximo 2,5 centímetros de altura”, esclareceu.
O gerente de Sustentabilidade da Seag, Janil Ferreira da Fonseca, explicou que a velocidade da água nestas condições, que eles chamam de “maximorum”, a água avançaria 15 centímetros a cada 100 metros. “Ou seja, um jogador de futebol, um atleta, seria capaz de sair correndo junto com a água lá da barragem e ainda chegaria bem antes a Barra de São Francisco”, exemplificou
Famílias doadoras estão preocupadas com o uso da barragem e vandalismo
As duas famílias doadoras das terras para a construção da barragem do Itaúnas também estiveram presentes na audiência pública e pediram informações mais detalhadas sobre o uso da barragem para fins recreativos e comerciais. “O senhor Vauil, disse que gostaria de criar peixes na barragem e que os seus vizinhos, da família Bianchini também têm essa intenção. Ele quis saber se poderia usar a barragem.
O técnico explicou que ele pode e deve utilizar a barragem, mas para isso, como qualquer outro, tem que solicitar a “outorga” pela Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh). “Hoje, o uso da água para fins de irrigação ou outros, por qualquer cidadão tem que ter a outorga da agência”, informou.
A família Bianchini, por sua vez, questionou o fato de que estão sendo dito nas redes sociais que o prefeito Alencar Marim vai implantar uma área turística no local. A neta do senhor João Bianchini, Tamires, disse que a família está preocupada porque algumas coisas que foram combinadas antes do início agora parecem que não vão ser cumpridas. Ela questionou também o problema do fechamento do local, que estaria sendo invadido por motoqueiros e outros durante a noite.
O deputado Enivaldo dos Anjos solicitou à empreiteira ou à Seag, que coloque um vigia e feche o local para não permitir o vandalismo durante a fase de obras, que será retomada em breve.
No entanto, o técnico explicou que, qualquer empreendimento nas margens da barragem só poderá utilizar 10% da mesma. Além disso, a área no entorno passa a ser de preservação e ninguém poderá fazer nada no local sem consentimento dos proprietários.
Mecanismos de controle da água
Para controlar o volume de água numa barragem como a do Itáunas, os técnicos explicaram há dois equipamentos substanciais: O Monge e o Vertedouro. Veja como funciona cada um:
Vertedouro
É uma estrutura hidráulica que pode ser utilizada para diferentes finalidades, como medição de vazão e controle de vazão, sendo estes os principais usos.
Em barragens, o excesso de água deve ser descarregado para jusante de forma segura. Isto pode ser feito de diferentes formas, sendo a principal delas com o uso de vertedores-extravasores. O vertedor é essencialmente um orifício sem a parte superior. Assim, vertedores-extravasores possuem uma parte inicial que é o vertedor propriamente dito, seguido de um canal (normalmente bastante inclinado) que possibilita o escoamento da água até a bacia de dissipação onde se forma um ressalto hidráulico (se ela existir).
Monje
É também conhecido como “caixa de nível” ou “cachimbo”, podendo ser construído tanto dentro como fora do reservatório. No caso de ser construído dentro do reservatório, além de ter como função prioritária manter a água do lago na cota normal, por ocasião das precipitações, ele auxilia o extravasor de superfície a dar escoamento à vazão de cheia pela tubulação de fundo que sai por ele. Na grande maioria das vezes trabalha como canal aberto sem nenhuma pressão sobre suas paredes internas.
No caso de ser construído fora do reservatório, além de cumprir a função prioritária que é a de manter a água no lago na cota normal, não necessita de divisão interna, podendo ser construído como uma única caixa, diminuindo dessa forma o custo da obra e facilitando sua manutenção por estar fora d’água, porém, com a desvantagem da tubulação de fundo que chega ao monje trabalhar o tempo todo como canal fechado.
O monge pode ser construído em alvenaria ou concreto, e constitui-se de uma caixa de seção quadrada ou retangular, com uma parede divisória no meio. Em um lado da caixa fica uma abertura por onde entra a água, e do outro lado da caixa fica uma outra abertura, onde está ligada à tubulação de fundo, que retira a água do reservatório, conduzindo-a a jusante.
No meio, entre estas duas aberturas, é por onde se controla o nível d’água do reservatório, através da colocação de pranchões de madeira, que podem ser retirados, ou da construção de uma parede com furos, os quais podem ser tampados ou abertos, para controlar o nível d’água do reservatório.
(Weber Andrade com Ibram.org.br)